01/01/2008

Velho Marinheiro


Ninguém parte sem deixar alguma impressão, e os mais próximos herdam parte da sua alma liberada e se tornam mais ricos em sua humanidade.
Em cada amigo que perdemos, perdemos uma parte de nós: a melhor parte.
Toda pessoa que parte leva junto sua primeira primavera, seu primeiro beijo e sua primeira luta. Quando se vai, vários mundos vão com ela.
A vida não deixa de ser divertida quando alguém se vai, da mesma forma que não deixa de ser séria quando as pessoas riem.
Cada dia é uma pequena vida, cada despertar e levantar um pequeno nascimento, cada manhã uma pequena juventude e cada descanso e adormecer uma pequena morte.
Não é agradável ser abandonado. E no entanto somos abandonados de uma forma ou de outra durante toda a vida. Passada a perplexidade, resta reinventar o mundo.
Fernando Mercadante, o Velho Marinheiro, não está mais entre nós, sorrindo experiente lá da ponta do balcão do bar, como se para nos reafirmar que estava tudo bem, que a noite ia ser boa e que a vida vale a pena.
O bar ficou triste sem ele. Por um momento ficou parecido com um bar qualquer; mas, apesar disso, como ele mesmo ensinava, teimosamente feliz.
Vamos sentir muita falta dele.
Lehaim.