01/01/2008

Sábado de Manhã


Não sei se acontece com todo mundo, mas eu sempre tive a curiosidade de saber como é a casa das pessoas por dentro, a divisão dos espaços, a decoração, os objetos que as pessoas juntaram durante a vida. Gostaria, às vezes, de poder tirar o telhado das casas e espiar lá dentro, como se fossem de brinquedo.
Por isso um dos melhores programas que conheço é ir a uma dessas casas de famílias que se mudam.
Quando minha mãe estava mudando de uma casa enorme para um apartamento pequeno, era necessário se desfazer de muita coisa e alguém me indicou a Cristina. É uma mulher despachada e trabalhadora que organiza tudo, ajuda a colocar preços, dispor as coisas da maneira mais atraente. Convida as pessoas para fazer uma visita e ver se acham alguma coisa interessante para comprar.
Aos sábados, logo pela manhã, lá está ela e seu pequeno exército de auxiliares a espera dos convidados.
É como entrar na casa de alguém e surpreender-se com o que se esconde por trás da fachada; desvendar os cantos e as passagens, encontrar das coisas mais simples as mais improváveis, admirar soluções arquitetônicas e arranjos muito pessoais de espaços. É como entrar na vida das pessoas. Imagino a vida diária delas, os jantares em família, as tardes preguiçosas, a rotina de cada um. Segredos imaginados.
Tudo, ou quase tudo, está à venda. É verdade que muitas das coisas expostas parecem encabuladas de estarem expostas assim à visitação pública. Quando voltei a morar sozinho, praticamente montei uma casa com esses achados. Desde sofá e mesa até geladeira e pequenas coisas de cozinha; objetos, roupas, abajures, tudo se acha. E cada fim de semana é uma nova surpresa: um novo bairro, uma casa diferente e mil outras possibilidades.
O programa só tem um defeito: Vicia. É comum encontrar as mesmas pessoas todas as semanas, transitando entre as que são do bairro e estão indo pela primeira vez. Troca-se um olhar cúmplice, um bom-dia ou um como vai e segue-se em frente. Uns começam a visita pela cozinha, outros pela sala. E há também os caçadores, de quadros, de lustres, de mobília, de cristais e de objetos de arte. Deve haver os especialistas que com um olhar descobrem o que passa desapercebido por nós mortais. Até já encontrei coisas que hoje me são preciosas, mas o bom mesmo é a farra da caça ao tesouro. Grande pedida.