Bandeira: s. f. 1. Pedaço de pano, em geral retangular, com figuras e inscrições em cores regulamentares, e que é distintivo de uma nação, estado, corporação ou partido, ou para fazer sinais. 2. Facção, partido. 3. Idéia que serve de guia a uma cruzada, teoria, partido etc. 4. Caixilho envidraçado que encima portas ou janelas e serve para dar claridade aos aposentos. 5. Inflorescência da cana-de-açúcar e do milho. 6. Expedição armada (fins do séc. XVI aos começos do séc. XVIII), para explorar os sertões, descobrir minas ou capturar índios. 7. Em autos de praça, parte móvel do taxímetro, onde ocorre a bandeirada.
Domingo à tarde. São Paulo fritando a 38 graus à sombra. Meu amigou no Ibirapuera, travado no trânsito da Bienal, ainda com um artigo sobre um padre na cabeça. Em frente à Assembléia, a Bandeira Paulista, no topo do mastro, tremulava suada. Ele pensou em voz alta: por que treze listras e não quatorze? Eu, ao seu lado, disse: não tem resposta para essa pergunta.
Encalorado e curioso, olhou para mim e perguntou: o que você entende disso?
Respondi: meu bisavô é o criador da Bandeira Paulista.
A freada foi tão brusca que o padre da sua próxima coluna, sua maleta e seu próximo compromisso foram projetados para fora de sua cabeça.
Qual é a história, perguntou, pensando nos pontos que podia ganhar com uma multa e perguntando-se que penas eram aquelas que viu voar por cima do seu carro.
Bem, a história – que é uma história de duas bandeiras na verdade, a bandeira propriamente dita e a bandeira que o autor da bandeira deu – que contei a meu amigo (ignorando as penas do pobre pombo), é a seguinte:
O famoso escritor e gramático Júlio Ribeiro idealizou e publicou a Bandeira Paulista (desenhada por seu primo Amador Bueno do Amaral), pela primeira vez, em seu jornal “O Rebate”, no dia 16 de julho de 1888, como uma proposta para a Bandeira da República que queria ver instaurada no Brasil, e que foi preterida em favor da bandeira positivista que agora temos. No entanto, foi adotada como a Bandeira da Província de São Paulo. Originalmente tinha quinze listras e sabe-se lá por que cargas d’água, fixou-se nas atuais treze listras imortalizadas por Guilherme de Almeida (tido por alguns, até hoje, como seu criador).
A segunda bandeira, aquela que ninguém viu, é a seguinte:
O nome completo de Júlio Ribeiro era Júlio César Ribeiro Vaugham. Ele era filho de um americano da Virgínia, cujo avô, por sua vez, havia sido amigo pessoal de George Washington, em homenagem a quem havia dado o nome a seu filho de George Washington Vaugham. Esse, que era o pai de Júlio Ribeiro, aos dezoito anos, pegou alguns cavalos de raça que recebera de herança, e despencou para o Brasil. Quando passava pela cidade de Sabará em Minas Gerais, apaixonou-se e casou-se. Muitos anos depois, já com o filho crescido, partiu e sumiu neste mundo. Dizem que morreu na África. Júlio Ribeiro jamais o perdoou por ter abandonado a família e este foi o motivo de ter deixado de usar o nome do pai. Mas a semelhança entre o pavilhão paulista e a Bandeira Americana é por demais flagrante para escaparmos da tentação de fazer psicanálise histórica. Enfim, uma grande bandeira da parte desse nosso grande escritor.
Ignorando a fila de carros formada atrás dele, de mansinho, para não dar bandeira, estacionou por ali mesmo. Pensei em pagar um táxi a ele em vez de arriscar a que tomasse uma multa. Desisti quando pensei que com a bandeira 2 que iria ter que pagar, essa história ia acabar ficando com bandeiras demais.
Fontes:
1. Maria Júlia Pinheiro Lopes, neta de Júlio Ribeiro.
2. Michaelis, moderno dicionário da Língua Portuguesa, Melhoramentos, 1998.