01/01/2008

O Pequeno Portão Amarelo e o Morro


Não sei muito bem como fui parar lá. Foi nos anos 70, provavelmente depois de ler o Carlos Castañeda, alguém mencionou o lugar. Era um pequeno portão de madeira amarelo no meio do quarteirão. Descia-se até o porão e logo na entrada, ao pés de um enorme tambor, as pessoas tiravam os sapatos e calçavam sandálias. Na sala ao lado, todos quietos sentados ao redor de uma mesa. Logo, um monge japonês careca batia no tambor e esse som profundo era o sinal para que todos se levantassem e fossem em fila indiana em direção ao Zen-Do. O Zen-Do era uma sala enorme com bancos compridos encostados na parede. Os bancos eram forrados com tatame e a intervalos regulares umas almofadas gordas e azuis. Todos faziam uma reverência em direção as almofadas, sentavam-se, viravam para a parede e em posição de lótus, ficavam em silêncio por quase uma hora. Quando o tambor soava novamente, desta vez seguidamente, em um ritmo que acelerava vagarosamente, era hora de sair. Lá conheci Daijú que me convidou para conhecer o Morro da Vargem. Fui. Apropriadamente ficava no Espirito Santo. Era um mosteiro Zen Budista, o único da América Latina, me disseram, e tinha uma atmosfera medieval. Lá se ia ao Zen-Do várias vezes ao dia, o resto do tempo trabalhava-se: na plantação de arroz, na cozinha, varrendo o pátio, consertando o que precisasse de conserto. Falava-se pouco e dormia-se somente o necessário.