01/01/2008

Lá Vem Papai Noel...


Josias tinha arrumado um bico de Papai Noel. Já estava contando com os trocados e um resto da ceia dos bacanas para levar de volta para o barraco. Ajeitou a fantasia e entrou na Brasília. Mas pobre, sabe como é, sempre dá azar. Foi só entrar na marginal e o carro encrencar. Que lata! Onze e meia e ele ali.
Enquanto isso...
A família reunida na linda casa dos jardins. O mais velho, diretor de multinacional, chegado a pouco do Chile com a esposa e os filhos pequenos. A magérrima irmã, professora universitária, seu marido, intelectual e caladão, os dois filhos do segundo casamento do patriarca e, é claro, o próprio, todo pimpão com a terceira esposa, presidindo a reunião. A farta ceia disposta sobre a alva toalha de linho, os vinhos corretos, o champagne, enfim, tudo perfeito.
Meia-noite e nada do Papai Noel. As crianças com os olhos compridos postos na reluzente árvore de natal cercada de presentes. Meia-noite e quinze e nada. Meia-noite e meia. O filho multinacional argumenta que talvez devessem abrir os presentes sem esperar o bom velhinho pois as crianças já estavam com sono. A magérrima irmã nega peremptória. Iam esperar o Papai Noel e acabou-se. Começou um bate-boca que foi aumentando de volume até que o calado intelectual meteu uma bifa nos bofes do multinacional e o pau degenerou. Num piscar de olhos estavam no chão aos sopapos, rolando para baixo da mesa e arrastando peru, óculos, champagne, presentes, nozes, o diabo. O pai vermelho de falta de ar, a mão no coração, tentando subir para o segundo andar, a filha aos berros dizendo que a culpa sempre tinha sido dele, as crianças gritando e chorando. Tudo muito família.
Josias, meio sujo de graxa, com a barba branca grudando no pescoço suado, o saco vermelho cheio de jornais amassados para fazer volume, desceu da moto que finalmente lhe tinha dado uma carona, e tocou a campainha da casa.
Até hoje ele não entendeu direito o que aconteceu. A porta abriu e dois senhores desgrenhados, camisas pra fora das calças já saíram aos xingos em sua direção. Ele não teve dúvidas, disparou em desabalada carreira rua abaixo. Os passageiros dos poucos carros trafegando aquela hora devem ter entendido menos ainda: dois ofegantes e barrigudos senhores correndo atrás de um Papai Noel aos gritos.
É... Noite feliz.