A influência dos franceses e ingleses no Brasil começou há muito tempo e está muito presente na nossa história.
Os franceses já foram a mais séria ameaça aos portugueses no Brasil. Depois de serem expulsos em 1567 do Rio de Janeiro, eles passaram a prestar atenção ao norte do país. Em 1612, uma expedição francesa comandada por Ravardière começou a colonizar o Maranhão. Foram expulsos em 1615, é verdade, mas um tal de Duguay-Trouin capturou e saqueou o Rio de Janeiro em 1711.
A França se dizia dona do Amapá até 1900. A França sempre foi o modelo da vida intelectual e cultural no Brasil. O francês era a segunda língua dos mais educados e discutia-se animadamente no Brasil as novelas de Flaubert, Balzac e Zola. As lojas elegantes das grandes capitais eram cheias de mercadorias francesas e as mulheres competiam para ver quem vestia a última moda ditada por Paris.
Depois deles a cultura inglesa começou a exercer forte fascínio sobre nós, embora os ingleses tivessem tido modos bem arrogantes: o Rei James I, por exemplo, generosamente deu terras do norte do Brasil a nobres de sua corte, mas, por sorte ou azar nosso, estes não as colonizaram. Poderíamos exagerar e dizer que o ouro brasileiro financiou o déficit comercial entre Portugal e Inglaterra, e que eles tiveram um papel preponderante nos movimentos políticos que resultaram na Lei Áurea.
Mas hoje em dia podemos, passeando pela cidade e pela memória dela, nos deleitar com as ricas heranças deixadas por estas duas culturas em nossa cidade.
No centro velho, perto do Largo do Café, ainda existem muitos telhados e a formosa cúpula, tudo feito de ardósia, típicos da arquitetura francesa. existem muitos telhados e a formosa cúpula, tudo feito de ardósia, típicos da arquitetura francesa. Temos o Viaduto Santa Efigênia, inaugurado em 1913, que passava por cima do antigo Mercado de Frutas e Hortaliças; o Parque Trianon na Av. Paulista – originalmente a Rua da Real Grandeza –, que era assim conhecido por causa do casarão que foi demolido para dar lugar ao MASP, e que as autoridades insistem inutilmente em chamar de Parque Tenente Siqueira Campos; os Campos Elísios e o Campo de Marte. Nomes e lugares inspirados na França.
Podemos nos lembrar do engenheiro ferroviário Stevaux, que emigrou para o Brasil e que deixou sua marca aqui em Sampa. Havia a conhecida Livraria Gazeaux, importadora de livros, que ficava em uma esquina da Praça da Sé. Existe ainda a Capela de Santa Luzia, chamada de Igrejinha Francesa, que tem o célebre altar da Nossa Senhora Sem Cabeça na Rua Tabatinguera. E havia ainda o Liceu Franco-Brasileiro, mais tarde Lycée Pasteur, na Vila Clementino, onde Monsieur Imbert ensinou por muitos anos.
Já os Ingleses nos deixaram a Estação da Luz e o prédio da Light & Power, que foi construído no lugar do incrível prédio do Teatro São José, na esquina da Rua Xavier de Toledo. O primeiro Viaduto do Chá, que foi construído de 1886 a 1892 e demolido em 1938, também era de inspiração inglesa. Tinha duas guaritas com guardas nos dois extremos, com relógios registradores que contavam as pessoas que passavam pela roda giratória e pagavam três vinténs de pedágio. Deixaram também o Gasômetro e as inúmeras Vilas Operárias, como a Vila Zelina, por exemplo. Isso para não falar da antiga São Paulo Railway. Entre São Paulo e Santos, no topo da serra, os engenheiros da ferrovia construíram a cidade de Paranapiacaba, que rende um passeio deslumbrante, especialmente em uma manhã de inverno, logo cedo, quando uma deliciosa neblina ou fog cobre a pequena cidade e esperamos esbarrar com Sherlock Holmes a qualquer momento. Temos até hoje a St. Paul School, conhecida antigamente como Escola Britânica de São Paulo. Não podemos nos esquecer da nossa primeira loja de departamentos, a Mappin Stores, instituição de primeiro mundo, que tinha até mesmo uma biblioteca com livros em inglês e empregados ingleses como Mr. Wilson, responsável pela seção de calçados, morador da famosa Pensão Brasileira na Rua Direita. Até a década de quarenta, todo mundo que era alguém queria ser visto saboreando o imperdível chá das cinco da Mappin Stores.
Muito disso já se foi, e embora não seja mais possível ver as moças do L’Auberge de Marianne na Rua Sete de Abril e sentar em suas mesinhas de calçada para um chocolate e um brioche, continua a ser uma ótima pedida jantar no Le Casserole ou no Freddy, tomar uma cerveja preta no Finnegan’s Pub ou no Clube Inglês da Rua Visconde de Ouro Preto e freqüentar o conhecido bazar de fim de ano da Igreja Anglicana na Rua Alziro Zarur, para comprar livros em inglês de segunda mão ou adquirir as famosas geléias em pote e o plum cake (bolo de ameixa) feitos pelas famílias inglesas que moram no Alto da Boa Vista.
E sempre resta o consolo de saber que deixamos também nossa pequena marca na história dos dois povos mandando Assis Chateubriand para a Corte de St. James como embaixador e fazendo o General De Gaulle andar de fusca em uma visita oficial ao Brasil.
Fontes:
1. A History of Brazil, de E. Bradford Burns, Columbia University Press – New York.
2. Retalhos da Velha São Paulo, de Geraldo Sesso Jr., OESP - Maltese.
3. Longas conversas com velhos habitantes de São Paulo.